segunda-feira, 26 de março de 2012

A nada mole vida do trabalhador brasileiro

Por Cláudio Marques

A vida do trabalhador brasileiro não é nada fácil. Aliás, nunca foi! Desde os índios, passando pelos negros africanos, até os dias atuais, o trabalhador brasileiro se perpetua como o grande gerador de riqueza para as classes dominantes.
É ele quem trabalha para pagar, por exemplo, o caviar do patrão ao mesmo tempo em que 'se vira nos 30' todos os dias para sobreviver com um (R$622) ou no máximo dois salários mínimos (R$1.244) mensais. Merece o troféu de herói só por isso.

O jardineiro Paulo de Jesus Pereira, de 50 anos, que presta serviço à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia há mais de 10 anos, em Vitória da Conquista, é um exemplo de que a vida do trabalhador brasileiro não é nada mole.
De origem pobre, Paulo teve de trabalhar desde pequeno para ajudar na renda da casa. Por conta disso, abandonou os estudos quando estava na 4ª série do ensino fundamental.

Como a maioria dos trabalhadores brasileiros, o jardineiro, que mora no bairro Nossa Senhora Aparecida, tem de acordar antes de o sol iluminar as cidades e os campos, precisamente 5h da manhã, para dar tempo de tomar café, pegar o transporte público lotado e chegar ao batente.
De segunda a sábado, Paulo tem de sair de casa 5h e 30 da manhã para chegar ao trabalho 7h. Essa demora toda é explicável: Paulo, ao amanhecer do dia, precisa caminhar cerca de 10 km para pegar o transporte lotado da Uesb, que tem como ponto de saída um local distante de sua residência.

Corre o risco de ser assaltado durante o trajeto, mas não tem outra alternativa, pois, caso pegue um outro ônibus que não seja o da Uesb, tem de pagar por R$2,10 que é o preço da passagem do transporte público de Vitória da Conquista.


Trajado com uniforme verde, calça jeans e botas, Paulo, ao chegar na Uesb 7h, encontra com seus colegas de trabalho e aproveita para colocar o bate-papo em dia. Mas a conversa amigável entre eles demora no máximo 10 minutos: logo se espalham pelo extenso território da universidade e cada um vai cuidar de sua ‘obrigação’.
Toda cobertura vegetal da Uesb só é bela porque existem jardineiros como Paulo para cuidar dela. Durante os mais de 10 anos de trabalho na Uesb, ele já conheceu muita gente simpática e educada, mas também pessoas mal-humoradas e preconceituosas, talvez por isso ele ande grande parte do tempo cabisbaixo.

Sua expressão de cansaço e seu olhar tristonho refletem à realidade do trabalhador brasileiro explorado, subjugado e marginalizado.
O percusso que o jardineiro faz de segunda a sábado é longo, cansativo e estressante: Paulo, apesar de sair 5h da tarde do trabalho, tem de esperar o transporte da Uesb amontoado de gente passar.

Quando o ônibus da universidade finalmente chega ao destino final, Paulo ainda tem de caminhar à noite cerca de 10km até a sua casa. A lua é sua única companheira. Aliás, nos dias nublados, até mesmo ela lhe abandona e lhe deixa solitário em meio à escuridão, correndo risco de a qualquer momento ser parado por um assaltante e pedir para passar seu relógio, que Paulo paga há 5 meses, pois comprara a prestação.
Mas Paulo, como grande parte do trabalhador brasileiro, não desiste fácil de lutar e deve continuar no batente diário mesmo após a aposentadoria, pois o dinheiro que receberá da previdência não é compatível com suas necessidades básicas e de sua família.

O jardineiro continuará por um bom tempo ainda acordando 5h da manhã e chegando em casa próximo de 8h da noite, estando ausente de casa ao longo dia por mais de 12h, o que prova que o trabalhador brasileiro, sobretudo o baiano, tem uma nada mole vida.

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